A saúde mental de crianças e adolescentes vem se tornando, principalmente nas últimas décadas, tema de inquietação e temor. Não somente restrita aos pais e educadores, a preocupação também abrange e intriga profissionais da área da saúde mundialmente, motivados pelo impacto da velocidade de transformação do mundo; fluxo acelerado de informações e a participação das telas no processo de neurodesenvolvimento desde a mais tenra idade. Porém, ainda se conhece pouco sobre as consequências na saúde mental e no desenvolvimento neurológico de crianças e adolescentes.
Esse quadro foi agravado por conta da pandemia da Covid-19, quando as crianças em idade escolar foram privadas do ensino presencial e houve o isolamento social. Pesquisas mundiais indicam que as crianças se sentiram infelizes e, consequentemente, houve um aumento nas condições de saúde mental dos pequenos. A partir desse quadro, a arteterapia tornou-se uma valiosa aliada à abordagem de crianças e adolescentes neurodivergentes e/ou em sofrimento psíquico.
Reconhecendo o potencial benefício da arteterapia, o curso de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA) vem elaborando o “PedArte – Cuidado de Crianças com TEA e TDAH”, um projeto de extensão universitária que pretende auxiliar no tratamento e desenvolvimento de crianças entre 4 e 7 anos, e que já são acompanhadas no Ambulatório de Neuropediatria na Policlínica da instituição, localizada no campus Olezio Galotti, em Três Poços. O atendimento vai iniciar em agosto, em um espaço criado especialmente para que os pacientes se sintam à vontade para interagir e terá uma extensão inicial de 6 meses.
As atividades do projeto estão programadas para acontecer quinzenalmente, com duas sessões por mês e duração de 1 hora, a serem conduzidas com grupos de 8 a 10 crianças. Os alunos participantes contarão com o auxílio e supervisão de pelo menos um profissional da equipe multiprofissional de acompanhamento da criança com distúrbio do neurodesenvolvimento (psicopedagogo e/ou neuropediatra e/ou terapeuta ocupacional).
Para o professor Luciano Costa, o projeto é importante para os estudantes envolvidos, para desenvolver as habilidades humanas e sociais tão significativas para a prática médica, contribuindo também para que possam vivenciar experiências que traduzam o respeito à diversidade e à infância como parte da formação profissional que a instituição busca nos alunos:
“Como docente, acredito que o projeto reforça o compromisso da instituição com a responsabilidade e a inclusão social que temos como parte do atendimento que fornecemos aos nossos pacientes. Pretendemos abranger e beneficiar cada vez mais crianças atendidas no serviço de Pediatria de Três Poços, contribuindo com a inclusão e o desenvolvimento durante a infância”, ressaltou.
Métodos aplicados para assistência às crianças
De acordo com a aluna do 12º período de Medicina, Maria Eugênia Galhardo, uma das responsáveis pela elaboração do projeto, serão organizadas atividades para criação artística utilizando materiais como lápis de cor, biscuit, massa de modelar, tinta guache, tinta a óleo, giz de cera, isopor, placas de EVA e argilas:
“As atividades vão ser desenvolvidas com materiais reciclados como caixas, restos de tecido, garrafas plásticas, entre outros, bem como brinquedos destinados à estimulação e percepção sensorial e cognitiva, como caixas mágicas, areia cinética, placa de texturas e afins. Os temas abordados terão relação com o cotidiano e a infância, como vivência em ambiente escolar, familiar e comunitário, além de temas relacionados a aspectos que envolvem a identificação e nomeação de emoções, o espaço geográfico e o lazer, contribuindo com o desenvolvimento psíquico, emocional e motor através da observação, elaboração e criatividade”, explicou a aluna.
Com o existe uma grande procura de pacientes/crianças atípicas em busca de suporte ao neurodesenvolvimento, há a possibilidade de ampliar ainda mais o cuidado e a assistência às crianças já atendidas no ambulatório de Pediatria na Policlínica do UniFOA. Dessa forma está sendo estudada a abertura de novas vagas para participação no projeto, ocorrendo semestralmente. Os discentes que participam deste projeto, além da Maria Eugênia, são: Aline de Paula, Giovanna Liberati e Sérgio Vitor Vicente.
“Tudo começou durante uma consulta na Policlínica com um paciente portador de TDAH, que estava muito agitado e somente se acalmou após ter recebido papel e caneta para brincar. Elaboramos o projeto e fiquei muito emocionada quando o professor Rodrigo Freitas informou que havia sido aprovado. Fui correndo dar a ótima notícia aos coordenadores e professores muito especiais também envolvidos, como Luciano Costa, Clarisse Drumond e Marcia Trindade. Agradeço imensamente pelo apoio e confiança, e também à FOA/UniFOA por acreditar na proposta e disponibilizar a infraestrutura e todos os materiais para visibilizarmos o projeto”, contou Maria Eugênia.