Os acidentes domésticos, segundo o Ministério da Saúde, são a principal causa de óbito entre crianças de até 14 anos de idade. Anualmente, cerca de 3,6 mil crianças morrem vítimas de acidentes em casa e outras 111 mil precisam ser hospitalizadas. Os dados alarmantes chamaram a atenção do curso de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA) que, desde 2021, fomenta o ‘Projeto Criança Segura’, com ênfase nas áreas de prevenção de acidentes e de primeiros socorros, essenciais para que pais e responsáveis saibam como agir em situações de risco.
É preciso alertar, por exemplo, que a cozinha é um dos lugares de maior risco para acidentes, como cortes, queimaduras e intoxicações e, por isso, é necessário manter facas, garfos e objetos cortantes, como tesouras, em gavetas com travas de segurança e fora do alcance de crianças. Mas o projeto vai muito além dessas noções básicas, pois o objetivo é ensinar e treinar pais e responsáveis em como agir em ocorrências de Urgência e Emergência, além de prevenir situações de risco e o que fazer nos casos em que a prevenção não for suficiente para se evitar o mal à saúde da criança/lactente.
Desde o início até agora, mais de 350 famílias receberam importantes informações e treinamento, que são oferecidos na Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF); e na Policlínica Dr. André Bianco, ambas localizadas no campus Olezio Galotti do UniFOA, em Três Poços. Mesmo com a implementação da Lei Lucas, sancionada em 2018, ainda há grande defasagem nas informações sobre primeiros socorros entre a população brasileira, principalmente para a população que apresenta baixa condição social.
“Nosso projeto tem como objetivo a promoção da saúde de forma objetiva e prática, com ênfase na área de prevenção de acidentes e primeiros socorros. A abordagem presencial é realizada seguindo o protocolo de biossegurança das áreas de ciências biológicas e da saúde, criado pelo UniFOA. Outra meta é aproximar o estudante da população que utiliza a policlínica e o UBSF de Três Poços”, informou o professor Luciano Costa.
Um dos mais entusiastas do projeto é o coordenador do curso de Medicina, Júlio César Soares Aragão:
“Um projeto como esse é relevante por várias razões, pois permite que nosso estudante tenha a vivência de educação em saúde e de vinculação de conhecimentos teóricos em situações reais, fortalecendo a sua formação acadêmica e profissional. Além disso, presta um serviço relevante à comunidade e exemplifica a integração entre ensino e extensão no UniFOA. Esse é um papel fundante da nossa instituição – atender às necessidades da comunidade, promovendo o avanço do conhecimento científico e reafirmando nosso compromisso em formar profissionais com competência e responsabilidade social.”
Como é desenvolvido o Projeto Criança Segura
Todo início de semestre, 25 alunos passam por uma capacitação interna, que é oferecida pela Liga Acadêmica de Primeiros Socorros (LAPS) em parceria com os acadêmicos do curso de Medicina. Eles são divididos em grupos, sendo que cada um realiza duas intervenções na Policlínica e no Posto de Saúde, com as abordagens feitas na sala de espera, enquanto os responsáveis pelas crianças aguardam o atendimento médico. Cada grupo utiliza bonecos para praticar as manobras e facilitar a compreensão.
O projeto foi criado por duas alunas do curso de Medicina, após uma aula sobre acidentes na faixa etária pediátrica. As alunas observaram a necessidade de propagar as informações sobre segurança da criança para os responsáveis que procuram o atendimento em Três Poços. O interesse e a receptividade por parte dos responsáveis têm sido um sucesso e, por isso, o projeto é reeditado a cada semestre.
O professor Rodolfo Mendes, que acompanhou de perto as várias edições do Criança Segura, explica que “o projeto fornece ferramentas ao aluno para que possa praticar a educação em saúde, onde aprende o conteúdo, teórico e prático, em como manejar e informar a população acerca dos primeiros socorros pediátricos. Proporciona também um maior contato com a população, possibilitando a rica troca de conhecimentos e experiências”, salientou.
A aluna Larissa Azevêdo conta que entrou para o Projeto Criança Segura quanto estava em seu primeiro semestre de faculdade e, desde então, nunca mais saiu:
“Estou indo para o módulo 5 e continuo apaixonada por cada pedacinho do projeto. Participar dos treinamentos foi uma oportunidade de aprender o que só veria mais tarde na graduação. Isso foi muito importante para mim, pois hoje, após participar várias vezes dos treinamentos, me sinto menos ansiosa e mais preparada para enfrentar situações reais de emergência, que podem ocorrer a qualquer momento.”
Ainda de acordo com Larissa, “a outra parte do projeto, as intervenções, onde transmitimos o que aprendemos à população, sempre supera minhas expectativas. Ver as pessoas tão interessadas em aprender, poder conversar com elas, prepará-las para lidar com situações de perigo e, quem sabe, ajudar a salvar uma vida, é algo que torna o Criança Segura tão especial e emocionante para mim. Esse projeto me fez crescer muito, tanto pessoal quanto profissionalmente. Por isso, amo fazer parte dele”, finalizou, emocionada.
Saiba mais sobre a Lei Lucas
A Lei Lucas é uma Lei federal (13.722/18), que obriga as escolas (públicas e privadas) e os espaços de recreação infantil a se prepararem para atendimentos de primeiros socorros.
A criação dessa lei aconteceu em decorrência de uma fatalidade. Lucas Begalli tinha apenas 10 anos, quando se engasgou com um pedaço de cachorro quente num passeio escolar e veio a óbito, no ano de 2017. O tempo onde os primeiros socorros serão realizados é fundamental para salvar a vida da vítima.
A principal diretriz da Lei Lucas é a obrigatoriedade de escolas e estabelecimentos similares a possuírem pelo menos um profissional capacitado em noções básicas de primeiros socorros, a fim de prestar atendimento imediato em casos de emergência envolvendo alunos. Os profissionais que podam aplicar a Lei Lucas são: médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, além de policial militar do Corpo de Bombeiros. (Fonte: Ministério da Saúde).